A Coisa Mais Gratificante


Da esquerda para direita, Moisés, Wesley, Sifu Marcos e Ademário



 .. É receber em nossa escola visitas de pessoas que admiram nossa arte com paixão, e praticam com esmero do jeito que lhes é possível. Lembro bem quando eu era só um garoto de doze anos com um livro do escritor Marco Natali, "O Kung Fu de Bruce Lee", e um exemplar da lendária revista Combat Sport na mãos, está última cuja capa tinha uma foto daquele que seria meu mestre anos depois, Sifu Li Hon Ki. 

Conseguir treinar Kung Fu para mim era um sonho quase inatingível, que venci a duras penas. Quanto mais ter conseguido treinar com pessoas que conviveram com meus ídolos como Bruce e mais tarde Ip Man, cujo túmulo visitei em New Territories anos atrás, ou mesmo treinar com seus alunos diretos e parentes. Por isso a visita que recebi aqui foi tão especial, ela me trouxe lembranças de um passado dolorido, mais cheios de recompensas e do qual me orgulho. 

Conheci Ademário quando passava em frente à farmácia mais próxima da escola. Identificado como praticante pela camisa, ele pareceu não me reconhecer como professor a princípio e perguntou sobre a escola e horários de treino. Depois que me revelei professor, pareceu que lembrou me reconhecer da internet, mas não ficou claro para mim, e eu nunca perguntei, até porque não tem muita importância, embora tivesse a curiosidade profissional, mas ele pareceu ter ficado bastante admirado e me tratou com o mesmo respeito e reverência que vi serem dispensadas a meus mestres chineses ao longo dos anos, o que me fez logo procurar desmistificar isso e mostrar que somos pessoas comuns. 

Da segunda vez que o encontrei na mesma farmácia, ele já fez perguntas técnicas, o que normalmente me anima, e mostrei como a maioria das pessoas fazem e a minha visão técnica sobre uma defesa chamada Pak Sao (Tapa). Por sorte o lugar estava vazio, pois ao contrário daquela visão de mestre que pouco fala e nada demonstra eu saio da imobilidade ao movimento repentinamente, para logo depois ficar imóvel novamente, o que por vezes assusta quem passa e gera algumas cenas engraçadas. 


Embora eu lhe houvesse passado endereço da escola e deste website, ele não me procurou até outro dia, dizendo que não poderia nos visitar sem trazer seu aluno (vide foto, à minha direita) e seu filho (o primeiro da esquerda para a direita na foto). Achei que não viria, mais veio dias depois. Alguns minutos de conversa, entramos no fatídico assunto de Wing Chun versus seleção do mundo de artes marciais, objeto de tantas lives, trabalho de anos que ninguém me ensinou senão os combates contra, estudos e leituras. Neste caso, fiz o de sempre, mostrei o que Wing Chun não é (sim, isso mesmo, você não leu errado) o porquê, e vi então que vejo sempre: os praticantes começarem a enxergar claramente que seus pontos fortes fazem a arte ser relevante, bastando olhar para ela com um olhar um pouco mais atento. O Wing Chun não precisa ser boxe, ou Muay Thai, ser melhor que essas lutas, porque simplesmente essa não é, nunca foi e nunca será a proposta da arte, ao menos enquanto ela continuar a ser treinada assim, observando sua estrutura biomecânica original e teorias de aprendizado e estratégia técnica. 

Não fiz e nem poderia fazer o que faço enquanto moderador dos maiores foruns de kung fu. Não perguntei sobre a origem de seu conhecimento, com quem aprenderam, nada. Apenas vi pessoas apaixonadas pelo que fazem, que defenderem nossa arte de críticos com seu exemplo de vida e prática, se divertirem conhecendo uma escola um pouco mais estruturada e profissional. Ao ouvir o professor Ademário falar de suas demandas e orgulhos enquanto praticante pude não apenas lembrar da minha própria sina como dividir soluções que encontrei por meu caminho e abri possibilidade para visitas futuras. Uma noite excelente e agradável, proveitosa para todos. Senti-me realizado, quando depois recebi uma mensagem de agradecimento e de como os garotos ficaram animados, comentando sobre nossa conversa. Mas o que eles não sabem é que gente como eles, com sua humildade e perseverança são aqueles mantém a chama da prática de Wing Chun acesa para as próximas gerações⚔️


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