Sifu Li Hon Ki (1952-2016)

GM Li Hon Ki e seu discípulo mais famoso, o destacado lutador dos anos noventa Eddie Freire.




Grão-mestre Li Hon Ki (Li Hon Kay, 李汉基), foi um dos introdutores do Kung Fu no Brasil junto com seu irmão, Grão-mestre Li Wing Kay. Embora também tenha sua história ligada ao Hung Gar e ao Tai Chi Chuan da família Wu, este texto foca em sua trajetória no Wing Chun Kuen. 

Li Hon Ki começou seus estudos de Wing Chun em 1968, com Sifu Ho Kam Ming (1925-2020) em Macau, apresentado por Tam Chi Cheung. No intuito de treinar em Hong Kong durante a semana entre as idas e vindas a Macau, em pouco tempo foi apresentado ao Patriarca Ip Man e passou a frequentar a sua escola. Nesta época Ip Man já não dava aula diretamente por conta da idade avançada, sendo auxiliado na maior parte do tempo por seus alunos mais avançados. Neste período um jovem LHK costumava oferecer jantares para seu SiGung (mestre-avô) para demonstrar seu respeito e gratidão.

Depois da morte de Ip Man em 1972, seguiu seus treinos com diversos instrutores, dentre os quais Ng Chang, Koo Sang, e Ng Ken Po. Torna-se representante da maior entidade representativa do Wing Chun no mundo, a HKVAA, sob o número 246. No espaço de cinco anos sagra-se campeão de Taekwondo e Kung Fu. Chegou ao Brasil em 1979, tendo treinado nomes como Marcelo Novaes Bonfá, Claudio Ramires Vasques, Léo Imamura, Marco Natali, Marcelo Florentino e muitos outros. Entre os anos 80 e 2000 seus alunos venceriam a maioria campeonatos de kung fu relevantes em diferentes modalidades. 

Da direita para a esquerda, Sifu Paulo Júnior, Sifu Marcos, GM Li Hon Ki, Prof. Jessé Lima e Prof. Dr. Roberto Jerônimo, Universidade Federal de Sergipe, 2012.


Durante os anos noventa faz uma nova e profunda alteração técnica eu seu estilo ao se tornar discípulo formal de Sifu Duncan Leung via cerimônia Bai Si. Isso resulta numa mudança de paradigma no Wing Chun brasileiro, que já sofria com os efeitos do nascente MMA que colocava no descrédito as lutas “absolutas” que se alegavam superiores às demais. Enquanto o Wing Chun passava a ser vendido como mera defesa pessoal ou filosofia de vida no mundo inteiro para sobreviver, os alunos de Li Hon Ki somente com movimentos básicos venciam campeonatos de Kuo Shu e muitos eram os relatos dos devastadores nocautes que os alunos de seus alunos aplicavam em agressores nas ruas. Li Hon Ki passa a chamar sua abordagem informalmente de Wing Chun “de primeiro contato”. Seu estilo e visão do sistema eram marcadamente explosivos, explorando encaixes corporais, reação reflexa, implacável, expressa em movimentos isolados, mais do que combinações ou ritmo esportivo. 

Os anos 2000 são marcados por um afastamento gradual de Li Hon Ki das atividades do dia a dia com artes marciais, voltando-se mais para a medicina chinesa, e acaba “fechando as portas” de seu recinto marcial (Mo Gwoon) e focando mais na medicina chinesa e seminários pelo país com seus alunos já formados e mais ativos. A partir do começo da segunda década do novo milênio, depois de mudanças e disputas internas, o mestre decide então escolher sucessores formais para cada um dos estilos que lecionava, dentre seus alunos mais próximos e fiéis. 

Li Hon Ki na Revista Inside Kung Fu, Circa 2001
Nos últimos anos de vida GM Li Hon Ki se reaproxima de alguns seus alunos dos anos noventa mais envolvidos em projetos solo ou menos ativos reestruturando sua forma de trabalho. A esta altura, lutando já há anos contra um câncer extremamente agressivo, Li Hon Ki vem a falecer no dia 02 de junho de 2016, ladeado por seus entes queridos e com o suporte daqueles alunos que o acompanharam fielmente até o fim.  O legado de Sifu Li Hon Ki para o Kung Fu brasileiro e para o Wing Chun é definitivo. Ele sempre permanecerá vivo em nos corações não apenas daqueles que o amaram, mas daqueles puderam defender suas vidas com os conhecimentos com ele adquiridos, seja com a medicina chinesa, seja com seu poderoso kung fu de combate.