Alunos de outras localidades: minha história de busca refletida na história dos meus alunos.

Dido e Jedah, embora de estados diferentes, são dois de meus alunos mais conhecidos: troca de experiências de vida e evolução técnica. 



Por Sifu Marcos

Uma das maiores dificuldades que tive ao longo de minha carreira foi encontrar instrução de alto nível para os meus treinamentos em Wing Chun. Quando me interessei em treinar Wing Chun pela primeira vez eu tinha doze anos e morava no estado do Piauí. Embora eu morasse em Teresina, na capital, nesta época o Wing Chun ainda estava incipiente no Brasil, e a maior parte das escolas, mesmo nos grandes centros, tinham origem não muito certa, e poucos eram os chineses com algum conhecimento sólido no estilo. 


Dido vem de Recife há quase dez anos para treinar Wing Chun em Salvador. café da manhã reforçado antes dos treinos. 

Bem, eu acabei conseguindo ter acesso, anos mais tarde, ao Sifu Li Hon Ki, um dos introdutores dos estilos Wing Chun e Hung Gar no Brasil, quando este começou a vir a Salvador com regularidade por conta de seu trabalho com Wing Chun e acupuntura, por intermédio de meu primeiro professor, Mestre Alberto França Gomes, que enxergando em mim algo promissor, num grande gesto de altruísmo me colocou em contato com esta grande referência. 


Sifu Marcos serve de agressor numa demonstração de Sifu Gorden Lu em São Paulo: o mestre vem ao Brasil todos os anos para ensinar os princípios originais do Patriarca Ip Man. 


Entre viagens a São Paulo e mesmo até a China para treinamento, lutas em campeonato, treinamento para atletas profissionais e outras experiências, construí aos poucos uma sólida base, mas não eu teria conseguido nada sem duas coisas essenciais: a primeira delas, a disposição para investir meu tempo, esforço e dinheiro apenas em quem tivesse realmente conhecimento sólido a ser oferecido. E talvez a mais importante delas, ter coragem para ir atrás dos meus sonhos. Não existe ganho sem risco, e nas artes marciais isso não é diferente. 
Depois da morte de meu primeiro Sifu, destarte o alto nível em termos de conhecimento, em relação à proposta mais conhecida da luta na defesa pessoal, eu queria mais, queria ter de fato uma escola, com ligação sólida com as raízes técnicas do sistema, na sua esfera mais tradicional. Também queria que meu país, o Brasil, se tornasse uma casa para a arte nas suas gerações vindouras, da mesma forma que foi para o Judô, o Karatê e o Brazilian Jiu Jitsu. 


Eu fui até à China em busca das raízes da minha arte. O que você está disposto a fazer para chegar aos seus objetivos? 



Jedah (esq.) e Dido são roqueiros e tem banda, a trilha sonora dos treinos jamais é enfadonha!


Sendo assim, depois de algumas decepções que tive mesmo antes dessa mudança, decidi que eu daria a outras pessoas a chance de terem acesso ao conhecimento que tive, que iria fazer internamente o que eu já fazia como comentarista e articulista na internet, ensinar quem realmente estivesse a fim de aprender, viesse de onde viesse, com ética e caráter de propósito. Pois não basta ter um conhecimento legítimo, é preciso seguir os preceitos éticos contidos no código de conduta que o Patriarca Ip Man escreveu para o estilo, coisa que no contato com algumas outras escolas, mesmo legítimas, não vi em mais de uma ocasião. 



Cerveja para relaxar os músculos depois de um dia de treinos pesados. 


Com todas as dificuldades que uma escola pequena, porém legítima e respeitada tem, estou a escrever meu caminho com os meus alunos, ao longo de trinta anos praticando Wing Chun. Alguns deles vem de outros estados. Nestes últimos dois meses tivemos Dr. Josivane Marques (veja sua história aqui) e Dido (vide fotos) vindos ambos de Recife, e você pode ver alguns destes momentos aqui. Aproveitei a presença de Dido aqui e ele pôde me auxiliar numa aula pública que dei no Instagram a pedido de um de meus seguidores nas redes sociais (vide link abaixo):






Nossa logo atual foi desenhada por meu estudante Danilo Barbosa e ainda está em evolução: cada um contribui de acordo com suas vontades e habilidades. 

Cada um de meus alunos tem uma história de vida e luta, e nenhum deles chega até aqui por acaso. Muitas dessas histórias se parecem com meu próprio caminho nesta arte arte marcial, mas como ninguém é igual neste mundo, eu tenho a oportunidade de aprender também com estas pessoas fantásticas. Ensino é sempre uma via de mão de dupla. Eles entendem que uma escola de arte marcial não é apenas "você paga e eu lhe ensino": cada um de meus alunos, a partir de determinado ponto, tem a exata compreensão que são parte de algo maior, de uma tradição de pensamento psicomotor e cultural com séculos de existência. Por isso mesmo cada um contribui como pode para avançarmos mais e encontrarmos não todas as pessoas, mas aquelas que são predestinadas a estarem conosco. Seja num projeto visual, numa aula que o Sifu não pode comparecer, num vídeo feito para o Instagram, tudo é feito com muito amor e o resultado é que todos se sentem peças de uma engrenagem muito maior que a nossa mera vaidade pessoal. ⚔️







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